quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Crianças no Antigo Egito

Crianças no Antigo Egito 

Dentre os povos da Antiguidade, os egípcios possuíam a característica única de aceitar todas as crianças que lhes nasciam, diferentes, por exemplo, dos gregos, que descartavam bebês que nascessem com algum defeito físico, dos quais desconfiassem da paternidade, se não nascessem do sexo desejado ou simplesmente quando achavam que haviam bocas demais para alimentar. 

Para espanto dos viajantes gregos, os egípcios recebiam a todos com regozijo e sempre havia lugar para mais um. Sendo uma sociedade altamente agrária, novas crianças representavam garantia de sustento para os seus pais e irmãos mais velhos na velhice, assim como garantia de ter seus ritos mortuários realizados. Filhos eram “o bastão da velhice”, no dizer dos egípcios. Contava-se com filhos de ambos os sexos para tanto, já que mulheres podiam herdar propriedade, administrar empreendimentos e cuidar de finanças. Mas também criavam anões, cegos e surdos de nascença e deficientes físicos, pois os deuses, tão generosos com aquela terra abençoada assim possibilitavam e também assim desejavam como um tributo à sua grandeza.

As mulheres davam à luz auxiliadas por parteiras em uma cabana improvisada ao lado da casa, a mamissi, dentro dela havia um tijolo sobre o qual a parturiente se agachava, algumas vezes coberto de preces, invocações e símbolos para augurar um bom parto. O tijolo era colocado sobre uma valeta forrada de palha de junco na qual o bebê era depositado logo ao nascer. As parteiras algumas vezes eram sacerdotisas, porem mais ao nível do que conhecemos hoje como “rezadeiras”. Um dos costumes místicos era o de interpretar a sorte do bebê conforme seu comportamento ao nascer. Se ele dissesse “hiii”, ele iria viver, se dissesse “mbi” iria morrer, se fizesse um som parecido com pinheiros estalando, iria morrer. Na dúvida, podiam alimentá-lo por 3 dias com leite misturado com pedaços de sua placenta. Se vomitasse, iria morrer.

Outra prática mística em torno do nascimento, era a crença nas Sete Hathors, que eram divindades que ficavam ao lado da parturiente e pronunciavam um juízo a respeito do futuro da criança. Esta crença apareceu no Novo Império, e pode ter tido origem hurrita e hitita, que tinham as Sete Gulzes com a mesma função. Oferendas preventivas eram dadas às Hathors para que pronunciassem juízos favoráveis. Não se sabe como estes juízos era obtidos, se alguém entrava em transe, se havia algum oráculo ou augúrio.

O augúrio e o desejo de um bom destino podiam entrar em jogo na escolha dos nomes. Havia nomes que descreviam as circunstâncias do nascimento, sendo que os primogênitos podias ser chamados de Paser (“O mais velho”) e o caçula de Nedjem (“suave” ou “doce”), mas usualmente se colocava a criança sob a proteção de uma divindade, sobretudo as mais populares ou cultuadas no lugar de nascimento. Pessoas protegidas por Hórus, por exemplo, podiam ser Hori, Horhotep, Hormose ou Mer-Hor; por Rá seria Ray, Rahotep, Ramose (=Ramsés, Ramessu), ou Meri-Re; por Amon podia ser Ameni, Amenhotep, Amenmose ou Meriamon, e muitos tantos outros. Haviam nomes feitos de frases inteiras como Djed-Amon-iuf-ankh (“Disse Amon que ele viverá”) ou Amenherkhopeshef (“Amon é o seu braço forte”). Haviam também os apelidos, que descreviam fisicamente as pessoas como Pakamen (“o cego”), Pamiu (“o [cara de] gato”), Nehesi (“núbio”) ou Kem (“preta”) para pessoas de compleição mais escura. Haviam ainda abreviações como Huy (apelido de “Amenhotep”), Tey ou Tiye (apelido para “Nefertari”), Tjuro ou Tjenuro (apelido para “Tutmés”), Iuti (apelido para “Amenemhat”), entre outros.

Amamentar era uma tarefa não obrigatória, e as famílias que tinham alguma condição contratavam ou alugavam amas de leite. Haviam pessoas que viviam de amamentar filhos alheios ou “agenciando” mulheres para esta prática. Os filhos do faraó só podiam ser amamentados por mulheres pertencentes a aristocracia e, caso seu filho de leite se tornasse ele mesmo um faraó, estas mulheres podiam receber altas honrarias que podiam ser compartilhadas pelos familiares delas, sobretudo pelo irmão ou irmã de leite (o filho ou filha da ama que foi amamentado simultaneamente) de Sua Majestade. Um faraó podia ter mais de uma ou mesmo várias amas de leite ao mesmo tempo, como foi aparentemente o caso de Amenhotep II. Garrafinhas de cerâmica com vestígios de leite evidencia também o possível uso de mamadeiras.

Muito embora fosse raro o raquitismo nos bebês egípcios, a mortalidade infantil era consideravelmente alta em qualquer classe social. Além do problema conjuntural pré-penicilínica e pré-pasteurizante, que levava qualquer um vitimado por infecções ou intoxicações um pouco mais fortes, haviam problemas respiratórios, malária e muitos parasitas, diante dos quais as mães recorriam frequentemente às receitas caseiras, rezas e ajuda de diversas divindades, sobretudo Hathor e Ísis, que aparentemente eram muito sensíveis aos apelos das crianças, mas também Uadjet, a nutriz de Hórus, que dividia muitos atributos com as outras duas. Se o recurso de esgotava e o bebê falecia, ele era envolvido em um feixe de palha e sepultado nos fundos da casa sem muito alarde. Morte em idade muito tenra não era nem um pouco rara naqueles dias.

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